A adoção dos REM em conjunto com outras práticas sustentáveis foi substancial para o crescimento da empresa, que conseguiu melhorar e conservar a resposta dos solos e das plantas.
O agrônomo José Eugênio de Rezende Barbosa Sobrinho vem de uma origem na qual a agricultura, há mais de 75 anos, é base de trabalho e desenvolvimento. A Agroterenas, ou AGT, empresa da qual José Eugênio é presidente, produz grãos, cana-de-açúcar e laranja, e investe em inovação e tecnologia para garantir uma produção cada vez mais sustentável.
José Eugênio de Rezende
Barbosa Sobrinho
Agrônomo
Atualmente, a AGT possui seis unidades, três no estado de São Paulo, duas no Mato Grosso do Sul e uma no Mato Grosso. Além da produção de grãos e laranjas, a empresa também se dedica à fabricação de suco de laranja concentrado e congelado, óleos e atua no segmento da pecuária.
Segundo José Eugênio, a agricultura faz parte do DNA da sua família, sendo ele membro da terceira geração que tem na terra sua principal atividade. Hoje, a empresa opera aproximadamente 100 mil hectares, incluindo áreas próprias e de terceiros, com capital familiar. Embora a tradição seja valorizada, a AGT busca constantemente se modernizar, investindo no aprimoramento profissional, governança e práticas cada vez mais sustentáveis para o negócio.
“Nosso objetivo é crescer tanto qualitativa quanto quantitativamente”, afirma o gestor da AGT, que conta com uma equipe de cerca de 4,5 mil colaboradores e emprega técnicas avançadas para proteger e projetar o negócio rumo ao futuro.
A cana-de-açúcar é o carro-chefe da empresa, representando aproximadamente 70% do negócio, seguida pela produção de cítricos, com cerca de 20%. A produção de grãos, principalmente soja, e a pecuária, juntas, somam 10% dos investimentos da AGT. A empresa prioriza o investimento em técnicas voltadas para a melhoria da produtividade por meio da conservação e nutrição do solo. “Sempre nos dedicamos à conservação do solo, biodiversidade e ao respeito aos mananciais de água e matas ciliares”, explica o agrônomo, para quem a sustentabilidade é uma questão de sobrevivência. “A natureza cobrará um preço alto se não cuidarmos desse patrimônio”.
Agricultura Regenerativa
Para a AGT, o conceito de sustentabilidade vai muito além da mera preservação. A empresa aposta na economia circular, na qual os resíduos provenientes das lavouras são reutilizados e se transformam em alimento para plantas e animais ou em combustível. “Aproveitamos todo o resíduo da cana para nutrição da cultura, o bagaço da laranja para alimentação de bovinos e sua água residual, que é tratada com bactérias, se transforma em biogás, reduzindo o uso de lenha na produção de vapor”, detalha José Eugênio.
O agrônomo reconhece que ainda não há consenso na indústria e no meio acadêmico a respeito dos conceitos da agricultura regenerativa, mas acredita que esse entendimento se ampliará com o tempo. “O conceito é inquestionável, mas como você interpreta é diferente. Agora, há uma classificação intermediária entre os ecologistas e os tradicionalistas: a agricultura regenerativa, na qual você não joga fora as coisas boas da agricultura tradicional e incrementa com conceitos mais ecológicos, harmônicos, para obter uma sustentabilidade econômica, ambiental e social para a empresa”. Segundo ele, o fator econômico pode ser crucial na mudança de cultura, especialmente no meio acadêmico. “Não é unanimidade, mas uma parte da academia agronômica está começando a acreditar nesse conceito porque a agricultura tradicional se tornou muito cara, o custo benefício está sendo colocado em xeque e há mais probabilidade de você agredir o meio ambiente e ele não ser mais sustentável”.
Experiência com Remineralizadores de Solo (REM)
Dentre as práticas adotadas pela AGT está o uso de Remineralizadores de Solo, em conjunto com outros insumos, em um sistema de manejo considerado complexo pela empresa. “Temos um pacote de produtos e movimentamos um volume muito grande de organominerais. Possuímos pátios enormes de esterco de gado, torta de filtro, esterco de galinha, em que fazemos um mix e dentro desse conceito da compostagem vamos adicionando os remineralizadores de solo. Fazemos esse processo e deixamos de 40 a 60 dias. Também adicionamos algumas bactérias para liberar mais rápido o fósforo ou potássio e colocamos na reforma de cana e na própria soja que não tem nada de químico”, explica.
A empresa também investe na diversificação das culturas e no processo conhecido como Meiosi (Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente) para potencializar os resultados. José Eugênio destaca a importância da paciência nesse processo. “Estruturar um solo leva de 2 a 3 anos, e nós fazemos isso dentro do conceito de nutrição. Uma coisa muito importante dentro desse processo, para ter melhor resultado, é deixar o solo vegetado, com mix de plantas, braquiária ou com soja”, pontua o gestor.
O primeiro contato de José Eugênio com os REM ocorreu há aproximadamente 20 anos. Na época, enfrentava um problema em sua plantação de laranjas e recebeu a visita da renomada engenheira agrônoma Dra. Ana Maria Primavesi, já falecida. Através dos conceitos defendidos e recomendados por ela, obtiveram excelentes resultados na lavoura e passaram a acompanhar os estudos sobre Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais.
Em 2010, outro desafio aproximou a empresa dos insumos minerais: Após a divisão da empresa, a área destinada a José Eugênio apresentava solo com pouca argila, também fragilizado pelo uso exclusivo de adubos químicos. “Com a colheita mecânica, colhíamos muita cana, mas percebemos que o solo ficou frágil, com fácil erosão e baixa produtividade. Concluímos que, se continuássemos assim, não teríamos condições de sobreviver”. Nessa época, o agrônomo conheceu o Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS) e os conceitos defendidos pelos associados. “Começamos a acompanhar (o trabalho do GAAS) e veio um pacote de conceitos novos, como os remineralizadores de solo, chamamos consultores como o Ademir Calegari e o Eder Martins e passamos a modificar o processo.”
Após a introdução do REM no sistema de manejo a empresa identificou melhorias nas respostas do solo e das plantas. “O diferencial em terras arenosas é que o resultado é muito maior do que em solos bons, então fomos começando a colocar fatores de conservação de solo, compactação, colheita de cana de duas linhas, mix de plantas entre um plantio e outro, começando com a crotalária, junto com os Remineralizadores de Solo e o enriquecimento do solo com resíduo da torta de filtro da cana. A resposta é muito grande, o custo não cresceu muito porque o valor do químico aumentou, a gente conseguiu mitigar o aumento de custo e foi dando resultado”, comemora José Eugênio.
Na busca por potencializar os resultados, atualmente a empresa desenvolve estudos para substituição de produtos. “A gente foi prioritariamente por adição e agora estamos vendo se não fazemos muito além do necessário e modulando, para ver se colocamos um pouco mais ou menos de cada produto. É um sistema todo que estamos montando e conseguindo melhor produtividade”, explica.
Tudo vai no composto? De acordo com a empresa, as áreas com adição dos REM ao composto biológico produzido internamente têm mostrado melhores resultados em relação às áreas onde os insumos não foram adicionados, mesmo com a utilização do composto. “Estamos fazendo esses testes e estávamos muito céticos, mas isso mudou. Não estamos mais pensando só em cana ou só em soja, pensamos no tempo, nas épocas do ano, no mix de plantas, nas culturas comerciais, principalmente cana e soja e no que a gente faz para manter a produtividade, deixar o canavial mais longevo”, diz José Eugênio.
É um caminho sem volta? “Eu acho que é. Os agricultores-empresários dirão que não é um milagre e vão propor negociações. Em uma parte, colocamos Remineralizadores de Solo e vamos trabalhar com o solúvel também. Essa balança vai ter o lado econômico muito presente ao longo dos anos, você não vai zerar o químico e também não vai zerar os remineralizadores. Eu acho que vai ser o equilíbrio econômico regional” analisa o presidente da AGT que defende, também, a participação da ABREFEN, juntamente com os produtores, para garantir a qualidade dos produtos comercializados e expandir a oferta em locais onde, atualmente, não existem fornecedores de Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais.
“É importantíssimo que as indústrias e a associação cuidem com muito carinho da questão da granulometria porque senão a empresa vai vender um ano e os clientes não vão comprar mais. E também o palpite que dou é que tem muita coisa pra ser trabalhada em estados como Mato Grosso e Goiás. Tem muito potencial nessas regiões”, finaliza.