Do campo para a mesa:

Conheça a história do produtor Joe Valle que se tornou referência na produção orgânica com o uso de remineralizadores

Produzir e preservar é possível. Esta é a bandeira defendida pelo engenheiro florestal e produtor de alimentos orgânicos Joe Valle. A Fazenda Malunga, de sua propriedade, no interior do Distrito Federal é referência em laticínios e diversos alimentos saudáveis e nutritivos que vão para a mesa de milhares de brasileiros. Foram mais de 35 anos de aprimoramento para obter importantes certificações de produção orgânica, de boas práticas, bem-estar animal e social.

A relação de amor com o campo começou quando o produtor ainda era criança e visitava o sítio do avô. Aos 20 anos de idade, o jovem começou a produção agrícola, porém, com o uso de agrotóxico – prática comum na época. “Tive um problema sério de intoxicação, pois eu que fazia as pulverizações”, relembra Valle.

Tempos depois, Joe Valle teve problemas financeiros com as vendas no Ceasa. “Nessa época tive a sorte grande de estar em uma enorme universidade pública discutindo e aprendendo tudo. Então, quebrado e intoxicado, parei minha produção e fui só estudar”, relembra.

Na faculdade de engenharia da Universidade de Brasília (UNB), o produtor uniu-se a um grupo de estudantes que estudava a implantação de sistemas integrados de produção alternativa, o que hoje significa agricultura orgânica e agroecologia.

“Começamos a visitar o Brasil inteiro e ter algumas experiências. Em seguida, começamos a testar algumas na fazenda da universidade, mas como tinha certa burocracia e minha terra estava parada, a ofereci e iniciamos os testes com um grupo lá e começou a dar certo”.

Assim que a produção de vegetais engrenou, Joe Valle entendeu que era o momento de começar a vender. “Percebi que precisávamos vender a produção, então, abrimos uma feira na UNB e foi muito bom. Nos juntamos com outros produtores aqui de Brasília e criamos uma associação que existe até hoje. São mais de trinta anos de associação”, relata.

Em meio ao crescimento do negócio com as feiras livres na década de 90, Joe Valle casou-se com uma profissional agrônoma. Pouco tempo depois a esposa virou sócia do companheiro e o negócio de produção orgânica não parou de crescer.

“Num determinado momento, entramos para a venda em supermercados e começamos a crescer, porque naquela época tinha uma demanda reprimida. Percebemos também a importância de abrir uma loja própria para a nossa marca,” diz.

Já no período de 2012 e 2018, o casal abriu uma rede de lojas e delivery. Atualmente são quatro lojas de varejo, uma de atacado e o delivery Malunga que possui aplicativo disponível para IOS e Android.

Desafios

Na visão do engenheiro, um dos principais desafios de quem quer produzir orgânicos em grande escala está na ausência de pesquisas específicas e padrões de cultivos estabelecidos para a assistência técnica. Segundo ele, a extensão rural para a agricultura familiar carece de profissionais técnicos para atender a demanda do campo e defende que é preciso investimento do Estado na pesquisa de produção de orgânicos em grande escala e na assistência técnica. Outro ponto destacado por ele, é a regulamentação de bioinsumos que não tem uma lei própria.

Bioinsumos são produtos feitos a partir de microrganismos e materiais vegetais, utilizados para combater pragas e doenças, além de melhorar a qualidade do solo e a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Por apresentar baixa toxicidade e ser biodegradável, esse tipo de insumo promove a agricultura sustentável.

Uso de remineralizadores

O uso da remineralização, segundo Joe Valle, foi sugerido por uma professora da UNB que preparava uma tese de doutorado sobre o tema, durante uma visita à Fazenda Malunga e ele considerou a ideia importante, pois percebeu que seria viável produzir de forma sustentável sem agredir o meio ambiente.

“Vimos o potencial dos remineralizadores, porém, não existia o produto registrado e comercializado, de modo que era proibido utilizá-lo na produção orgânica certificada. Ainda faltava o registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)”.

O produtor conta que o produto que ainda estava sendo estudado foi utilizado esporadicamente na produção orgânica da fazenda, até a confirmação de que a utilização do remineralizador era benéfica ao solo.

A ideia deu tão certo que há quinze anos os remineralizadores são utilizados nas culturas de cebola, batata, brócolis e tomate. “Usamos dosagens um pouco maiores de três a sete toneladas por hectare. A importância disso é a manutenção do equilíbrio do solo”, destaca.

“O sucesso da nossa produção deve-se ao nosso manejo ser apoiado nesse tripé: uso de remineralizador de solos, mixes de cultura de cobertura e a produção e aplicação de micro-organismos”, complementa.

Os remineralizadores de solo são pós oriundos das rochas para fornecer nutrientes que contribuem para o bom desenvolvimento e produtividade de várias culturas de alimentos e grãos, contribuindo com a revitalização do solo.

Expansão
Segundo Joe Valle, com o crescimento de 25% nas vendas somente este ano, a intenção é produzir em áreas maiores. “Nós vamos trabalhar com culturas de cebola, cenoura e beterraba em áreas maiores, além de apostar na logística de envio e recebimento de produtos”, projeta.

Frutas orgânicas também são comercializadas nas lojas da família. “Entregamos em mais de 130 mercados no eixo Brasília – Goiânia”, diz Valle. Segundo ele, a ideia é introduzir produtos novos, como a soja, após a aquisição de uma máquina de extrusar a soja para produzir farelo para alimentar os animais.

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