Liderança e sustentabilidade no agronegócio brasileiro
No desafiador e dinâmico cenário do agronegócio brasileiro, a sustentabilidade deixou de ser apenas uma necessidade para se tornar um diferencial competitivo. Em uma entrevista exclusiva para a Novo Solo, o presidente do conselho técnico da ABREFEN, Eder Martins, conversa com Eduardo Bastos, presidente da Câmara Agrocarbono Sustentável do MAPA e do Comitê de Sustentabilidade da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).
Bastos compartilha sua trajetória, experiências e visões sobre o futuro do Brasil como uma potência do agronegócio. Com uma vasta bagagem profissional, incluindo passagens significativas por gigantes do setor como Dow AgroSciences e Bayer, além de ampla experiência em políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, o agrônomo atualmente ocupa as presidências do C-Carbon e do Comitê de Sustentabilidade da ABAG. Eduardo continua a influenciar positivamente o setor, promovendo práticas agrícolas regenerativas e inovadoras.
Nesta entrevista, em formato de pingue-pongue conduzida por Eder, Eduardo nos leva a uma reflexão profunda sobre os desafios e oportunidades do agronegócio brasileiro. Ele discute a importância das entidades associativas, a responsabilidade do Brasil na produção global de alimentos, e a necessidade urgente de práticas agrícolas sustentáveis. Além disso, Eduardo compartilha sua visão estratégica para o futuro, destacando como o Brasil pode se posicionar como líder mundial em produção agrícola sustentável.
Eduardo, como começou seu interesse pela agricultura e sustentabilidade?
Minha história está profundamente ligada à agenda da sustentabilidade. Sou engenheiro agrônomo de formação e natural de Ribeirão Preto. A família do meu pai é composta principalmente de produtores rurais ligados à cana-de-açúcar. Entrei na faculdade em 1992 e me formei em 1996, em uma época em que a biotecnologia na agricultura estava começando.
Logo após me formar, fui trabalhar na indústria de defesa vegetal. Ao olhar para trás, percebo que passei quase 20 dos meus 30 anos de carreira nessa indústria, atuando em empresas como Dow AgroSciences, Dow Química e Rhodia, hoje Bayer. Trabalhei também no IPEV, na destinação de embalagens vazias, o que me aproximou de Brasília e da política pública.
Minha proximidade com Brasília me fez entender a importância de apoiar a formulação de políticas públicas. Trabalhei próximo ao atual ministro Fávaro, desde quando ele era presidente da Aprosoja-MT, e nossa amizade se manteve ao longo dos anos. Mais recentemente, na Bayer, fui diretor de sustentabilidade para a América Latina, responsável por estruturar projetos de carbono. No ano passado, quando o ministro Fávaro e sua equipe decidiram criar uma câmara específica para discutir o carbono na agricultura, fui convidado para participar. A agenda do agro e do carbono é vital e o setor ainda não está devidamente inserido nessa discussão, apesar de seu enorme potencial. A Câmara do Agrocarbono foi criada para tornar o agro protagonista na agenda de carbono e tive a honra de ser nomeado presidente no início deste ano. Assim, minha trajetória me trouxe até aqui, sempre com foco na sustentabilidade e no impacto positivo do agro na agenda global de carbono.
Qual a importância da criação de Câmaras como a do Agrocarbono Sustentável para o futuro da agricultura no Brasil? Como ela tem contribuído para o desenvolvimento de soluções sustentáveis mais abrangentes e eficazes?
Hoje temos quase 40 câmaras, e a nossa foi a 38ª. Elas foram criadas na época do ex-ministro Roberto Rodrigues com o intuito de promover um diálogo mais próximo com o setor privado. A beleza das câmaras está no ambiente de escuta ativa e na rica troca de informações. Inicialmente, as câmaras focavam em culturas específicas, como soja, borracha e milho, permitindo um diálogo com toda a cadeia produtiva, desde a produção de insumos até a parte industrial.
Com o tempo, surgiram as câmaras temáticas, que abordam temas mais amplos em vez de focar em um setor específico. Por exemplo, a Câmara de Insumos Agropecuários (CETIA), onde participei bastante, discute a liberação de produtos e tecnologias, muitas vezes influenciada por diferentes perspectivas ideológicas.
No caso do carbono, ainda estamos um passo atrás, pois uma parte do setor agro não compreende totalmente essa agenda. Em nossa primeira reunião, fizemos um alinhamento conceitual para explicar a importância do carbono na agricultura e o papel da agricultura na agenda global de carbono. A agricultura brasileira é crucial tanto para a segurança climática quanto para a segurança alimentar, dado o nosso papel na produção de alimentos e na proteção de florestas.
O potencial do Brasil é enorme, e essa discussão é inescapável para o agro brasileiro e para o país. Precisamos elevar o nível de conhecimento e acelerar a transição para práticas mais sustentáveis. Mas a gente não tem o tempo que a gente tinha, por exemplo, na década de 70. Há uma urgência climática e alimentar, cerca de um bilhão de pessoas no planeta estão passando fome. Precisamos realizar essa transformação em 10 anos, no máximo.
As novas câmaras temáticas são essenciais para essa transição. Enquanto as antigas tinham uma visão mais verticalizada, as atuais oferecem uma abordagem transversal, crucial para atender à urgência nas questões de alimentação e clima. Não podemos mais setorizá-las; precisamos de uma visão mais ampla e integrada.
E, nesse sentido, como você vê o papel das entidades que estão participando da Câmara?
Acredito que as câmaras têm um papel vital como plataformas de troca de informações e diálogo ativo. Elas são compostas exclusivamente por associações, que representam tanto pessoas físicas quanto jurídicas. Isso é essencial porque garante que quem está ali não está apenas representando um indivíduo, mas uma série de pessoas com interesses e preocupações comuns. Essa estrutura facilita a tradução e disseminação de informações essenciais sobre temas complexos, como a agricultura regenerativa e a regulamentação do carbono.
Por exemplo, um produtor muitas vezes pode não entender inicialmente a importância do carbono na agricultura. Mas, através da Câmara, ele pode aprender que, ao promover práticas agrícolas sustentáveis, como a agricultura conservacionista, ele não só melhora a saúde do solo, mas também pode transformar o carbono armazenado em uma fonte de renda. Essa conscientização e educação são fundamentais e a Câmara é um espaço onde essas informações são discutidas e disseminadas.
Além disso, as câmaras são uma ponte essencial entre os produtores e o governo. Quem escreve as regulações são o Executivo e o Legislativo e é através das associações que os produtores podem dialogar com esses órgãos. Com mais de 60 associações e uma média de 130 participantes nas reuniões, a Câmara do Carbono, por exemplo, é um fórum riquíssimo para manter esse diálogo permanente. A presença de tantos atores diferentes permite uma troca de informações valiosa, que eleva o entendimento de todos.
Por fim, a Câmara permite uma discussão transversal sobre temas importantes. Não se trata de competir entre setores, mas de encontrar soluções comuns que beneficiem a todos. Por exemplo, em debates sobre biocombustíveis, a questão não é se o etanol de cana é melhor que o de milho, mas como ambos podem contribuir positivamente para a agenda de biocombustíveis e ajudar no avanço da sustentabilidade. Essa rica troca de informações e cooperação entre membros torna as câmaras essenciais para o desenvolvimento de soluções sustentáveis e eficazes para o futuro da agricultura no Brasil.
Esse tema é central hoje no mundo, e com certeza no Brasil, que é um país agrícola e mineral. Já somos um grande exportador de commodities alimentares e minerais. Quando pensamos na questão do carbono, temos que olhar do ponto de vista de uma economia circular, diminuindo as distâncias entre os processos. Gostaria de saber como você vê a importância do Brasil na economia verde e na produção de alimentos, especialmente considerando nossa posição como grandes produtores agrícolas e minerais
O Brasil tem uma responsabilidade muito grande. De acordo com o último estudo da Embrapa, alimentamos aproximadamente 800 milhões de pessoas. Somando os nossos 200 milhões de brasileiros, isso dá quase um bilhão de seres humanos que o Brasil hoje alimenta. Então, dos oito bilhões que há no planeta Terra, mais ou menos um bilhão tem um impacto direto em alimentação vindo do Brasil, seja em carboidrato, proteína, o que for. O Brasil desempenha, portanto, um papel central como exportador de alimentos. Dos grandes países produtores do mundo, somos os únicos com um excedente exportável. Na maioria dos outros países produtores, o balanço é negativo – ou seja, importam muito mais do que exportam.
Essa condição é estratégica e há mais de 15 anos defendo o Brasil no exterior como presidente do Comitê de Sustentabilidade da ABAG. O Brasil é amplamente reconhecido como uma potência agrícola e ambiental, um ponto raramente questionado. O desafio, no entanto, é que frequentemente tratamos essas duas potências como se fossem entidades separadas. Existe a percepção de dois Brasis distintos, um agrícola e outro ambiental, quando, na verdade, há apenas um Brasil. Estudos da FAO e da OCDE, por exemplo, indicam que o Brasil precisará dobrar sua produção para alimentar 2 bilhões de pessoas, à medida que a população global cresce de 8 para 10 bilhões. Enquanto muitos países, como China, Índia e Estados Unidos, não produzem o suficiente para atender ao consumo interno, o Brasil se destaca como o maior país capaz de gerar excedentes para atender esse crescimento global.
Essa demanda global não é apenas uma questão moral, mas também uma oportunidade financeira para os produtores. Produzir comida é, essencialmente, utilizar nossos recursos de forma eficiente. Atualmente, estamos trabalhando para melhorar a eficiência no uso desses recursos, como demonstrado pela nossa parceria com o C-Carbon da USP, onde discutimos a eficiência na mineração e no uso de nutrientes.
Por exemplo, se a média de produção de soja no mundo é de cerca de 60 sacas por hectare e o Brasil consegue produzir 130 sacas, devemos buscar maneiras de elevar ainda mais essa média. A recuperação de pastagens e a agricultura regenerativa são essenciais para restaurar a capacidade dos solos de reter nutrientes e, assim, aumentar a produtividade. Temos um plano nacional para recuperar 40 milhões de hectares de pastagem degradada, onde a principal tarefa é restaurar a matéria orgânica e a capacidade produtiva do solo.
Os solos tropicais, em geral, são pobres e precisam ser enriquecidos com minerais e matéria orgânica para recuperar seu potencial produtivo. Com isso, o Brasil pode cumprir sua meta de dobrar a produção de grãos de 300 milhões de toneladas para 600 milhões em 10 anos. Esse objetivo, que é equivalente ao que alcançamos em 50 anos, é necessário devido ao crescimento acelerado da demanda, especialmente na Ásia. A Europa, por outro lado, está diminuindo, enquanto a Ásia continua a crescer e demandar mais.
Portanto, o Brasil precisa manter sua posição global como fornecedor de alimentos e aumentar sua produtividade. A agricultura regenerativa é um caminho comprovado, e o Brasil já possui o know-how e a tecnologia necessários para avançar nessa área.
Uma das questões que consideramos muito relevante para o conceito de agricultura regenerativa é a sustentabilidade nutricional. Pensando assim, quanto menos recursos gastarmos trazendo nutrientes caros para cá, melhor. Recentemente, surgiu o conceito do legado do fósforo. Mais da metade do fósforo aplicado nos últimos 50 anos ainda está presente no solo. Ele não foi erodido, mas continua lá. No caso do potássio, não temos esse legado, pois o perdemos em nossos solos tropicais. Com o nitrogênio, a solução viabilizou, inclusive, a produção de soja. Como você vê a necessidade de encurtar os ciclos e aumentar a eficiência no uso de nutrientes, considerando que a agricultura regenerativa requer necessariamente maior eficiência? E como o Plano Nacional de Fertilizantes, com foco em cadeias emergentes, pode contribuir para aumentar essa eficiência e reduzir a dependência de importações?
Nos últimos anos, nossa geração, especialmente com os avanços da biotecnologia, começou a tratar os desafios agronômicos de forma compartimentada demais. O conhecimento avançou profundamente em áreas específicas, como nutrientes, irrigação e genética, mas frequentemente esquecemos de integrar esses componentes de maneira holística. A produção agrícola, incluindo a fitotecnia, não deve ser vista isoladamente em cada aspecto, mas sim como um sistema que combina todos esses fatores.
A agricultura regenerativa nos obriga a adotar um olhar mais sistêmico e integrado. Não adianta focar apenas no uso de micronutrientes, como zinco, se não estamos cuidando adequadamente dos macronutrientes essenciais, como nitrogênio, fósforo e potássio (NPK). Conceitos fundamentais, como o pH do solo e a textura, continuam sendo extremamente importantes. Por exemplo, muitos solos tropicais têm uma textura arenosa que apresenta desafios significativos para a retenção de nutrientes. Para superar isso, precisamos construir carga no solo, o que é feito através da aplicação de matéria orgânica. Isso não apenas melhora a retenção de nutrientes, mas também contribui para a construção de um solo mais saudável e produtivo.
A produção de matéria orgânica é uma estratégia crucial, mas não se trata apenas de carbono. Embora o carbono seja um fator essencial, a construção de matéria orgânica também está diretamente ligada à eficiência no uso de nutrientes. A relação entre carbono e nitrogênio é fundamental, pois influencia a mineralização da matéria orgânica, convertendo-a em carbono disponível e nutritivo para as plantas.
A questão da sustentabilidade nutricional também está relacionada ao uso eficiente de fertilizantes, que tem um impacto econômico e ambiental significativo. Fósforo e potássio são recursos finitos, e o nitrogênio, embora abundante no ar, requer um gasto energético considerável para sua conversão em fertilizantes utilizáveis. No Brasil, por exemplo, a energia necessária para essa conversão é relativamente cara, o que afeta a competitividade da agricultura. Portanto, é essencial utilizar fertilizantes de maneira mais eficiente e investir em melhoramento genético para aumentar a capacidade das plantas de absorver nutrientes de forma mais eficaz.
Inovações como a fixação biológica de nitrogênio em culturas além da soja e o uso de micorrizas para melhorar a absorção de fósforo são avanços promissores. No entanto, o investimento em ciência e tecnologia para desenvolver e implementar essas soluções ainda é insuficiente em comparação com a urgência das necessidades. Precisamos de mais investimentos e pesquisa para enfrentar esses desafios de forma eficaz e no tempo necessário.
Além disso, o desenvolvimento de micro-organismos que aproveitam melhor o fósforo existente no solo e a exploração de fixação biológica de nitrogênio para culturas como milho e cana-de-açúcar são áreas que exigem mais atenção e recursos. Essas abordagens podem transformar a forma como gerenciamos os nutrientes e melhorar a sustentabilidade da produção agrícola. O objetivo é fazer com que a agricultura regenerativa não apenas preserve o meio ambiente, mas também aumente a eficiência e a produtividade de maneira sustentável.
Você tocou em um tema muito relevante: os remineralizadores de solo. Globalmente, esses remineralizadores estão sendo estudados no contexto do intemperismo aprimorado, um processo que visa sequestrar carbono de forma inorgânica no solo por meio da aplicação de doses relativamente altas de basaltos e serpentinitos, por exemplo, ricos em cálcio e magnésio.
Você também mencionou a importância de aumentar o carbono orgânico no solo e a relevância dos remineralizadores nesse contexto. Eles têm três efeitos diretos: fornecem nutrientes, aumentam o pH do solo e contribuem para a formação de novas fases minerais. Há pesquisas que mostram que os remineralizadores podem gerar carga de troca catiônica (CTC) permanente, o que é significativo para a estabilidade do carbono orgânico no solo. Em solos altamente intemperizados, como os do Brasil, onde há pouca âncora mineral para estabilização do carbono, os remineralizadores podem ajudar a estabilizar a matéria orgânica associada às novas fases minerais formadas.
Como você vê a importância de estudar a estabilização da matéria orgânica associada a essas novas fases minerais e o impacto disso na eficiência do uso de nutrientes e na produtividade agrícola? Considerando que a aplicação de remineralizadores pode ter consequências positivas em termos de eficiência do sistema produtivo e uso da água, como você enxerga essa transição no modelo de agricultura no Brasil? E, finalmente, como avalia o impacto dessa mudança nas cadeias de insumos nacionais, especialmente na produção de insumos minerais para uso na agricultura?
Vejo isso como um caminho sem volta. O Brasil continua sendo o maior produtor tropical do mundo. Isso traz desafios únicos, como o controle de pragas, já que aqui não temos invernos rigorosos para interromper os ciclos de pragas. Além disso, nossos solos são mais intemperizados e, em geral, mais pobres em nutrientes e em capacidade de troca catiônica. Mas as pragas não param.
Nos últimos 10 anos, e especialmente desde a pandemia de Covid-19, a área de biológicos avançou muito, principalmente no controle de insetos. No entanto, ainda falta desenvolvimento em biológicos para controle de plantas daninhas. O que vejo é que essa agenda de carbono, com startups e grandes empresas já atuando em modelos de contratação para crédito de carbono, está impulsionando pequenas revoluções. Essas mudanças, como a aplicação de remineralizadores que quase se pagam por meio dos créditos de carbono, mostram um caminho promissor para uma agricultura de baixo carbono.
A matéria orgânica mineralizada tem uma estabilidade que pode chegar a mil anos. Ainda há ceticismo quanto à agricultura como parte da solução de mercado, mas sabemos que ela pode ajudar no clima. O desafio é ajudar o produtor a entender que o valor do carbono em si não vai pagar essa transição, mas sim a acumulação de mais matéria orgânica, que aumentará o potencial produtivo e a retenção de nutrientes.
Gostaria de conhecer sua visão sobre outro assunto. O Brasil vai sediar a COP30 em 2025, onde teremos um papel de destaque. Considerando soluções locais e regionais, como os remineralizadores de solo e fertilizantes naturais, o Brasil possui cerca de 80 produtos, e esse número pode chegar a 500 sem a necessidade de abrir novas mineradoras. A mineração já está bem regionalizada e distribuída, o que reduz as distâncias de transporte, diminuindo assim as emissões associadas.
O que você acredita que poderemos apresentar na COP30 para a comunidade internacional?
A COP sempre teve, na primeira semana, um foco em negociações governamentais, com a segunda semana mais aberta à sociedade civil. Historicamente, o setor privado e, especialmente, o setor agrícola, sempre tiveram pouca presença. A COP de Glasgow foi a primeira em que o mundo empresarial participou ativamente, e muitas empresas começaram a assumir compromissos globais, independentemente de seus governos.
O Brasil tem uma importância histórica nas COPs. Foi na Eco 92 que o mercado de carbono começou a ser delineado, com o Brasil ajudando a criar as regras desse mercado. Muitos tomadores de decisão, tanto públicos quanto privados, veem na COP30 em Belém uma oportunidade para mostrar ao mundo nossa ambição. O agronegócio tem um papel crucial, não apenas como parte do problema, mas como parte da solução.
A COP30 em Belém será uma oportunidade para mostrar que existe outra maneira de fazer agricultura, especialmente em regiões tropicais. A agricultura tropical deve ser conservacionista e regenerativa para que possamos continuar produzindo alimentos para o mundo. Se o Brasil não liderar esse movimento, não haverá outro país que o faça.
A mudança climática é tão importante quanto a produção de alimentos. Muitas vezes, nas COPs, a impressão é que a mudança climática é o tema mais importante, mas é fundamental também garantir a segurança alimentar em um mundo em crescimento, onde quase um bilhão de pessoas passam fome. O desafio do Brasil na COP30 será mostrar que é possível fazer as duas coisas de forma integrada.
É uma COP na Amazônia, pela primeira vez na história, dentro da maior floresta do mundo, então tem uma responsabilidade enorme para nós. Vai ser uma oportunidade interessante de falarmos sobre agricultura tropical, ligar a agricultura a vários outros negócios, principalmente a transporte, a combustível, porque essa é a maior emissão do mundo; 73% da emissão do planeta terra vem de combustível fóssil. E a agricultura também pode trazer uma solução de descarbonização de transporte.
Essa COP será crucial porque mudará o regime climático global, saindo do regime de Paris para o regime de Belém. Esse novo regime precisa ser mais ambicioso, pois estamos em um momento crítico para conter o aumento da temperatura global a 1,5°C, e isso traz consequências catastróficas, inclusive para a água. O agronegócio brasileiro deve aproveitar a COP30 para mostrar seu interesse em ser cada vez mais parte da solução e solicitar mais recursos, pesquisas e apoio para fazer a diferença. Esse é o ambiente ideal para fazer esse pedido e reafirmar nosso compromisso com as mudanças que o mundo tanto precisa.