O agronegócio se destaca por seu potencial de inovação, especialmente no que se refere à implementação de práticas que estejam em consonância com a melhoria dos índices de preservação e desenvolvimento do meio ambiente, entre elas o manejo sustentável, o uso eficiente de recursos naturais e, principalmente, a aplicação eficiente para fertilização e controle de pragas.
A Fazenda Santa Nice, localizada no município de Amaporã, no Paraná é um bom exemplo de que a adoção desse tipo de prática pode trazer muitos benefícios para o negócio. Em atividade desde 1944, a fazenda foi adquirida pela família Grisi em 1983. Para o gestor da Fazenda, Marcelo Grisi, um solo livre de produtos químicos, traz uma série de benefícios para o meio ambiente, para a produtividade agrícola e para a saúde dos animais e humana o que, segundo ele, prova que a pecuária pode ser um empreendimento sustentável.
Em consonância com esse pensamento, a Fazenda Santa Nice passou a adotar as práticas da Agropecuária Regenerativa, o que trouxe benefícios no longo prazo, entre eles o fortalecimento dos sistemas naturais, a melhoria na fertilidade do solo, na capacidade de retenção de água e o consequente aumento na capacidade de suporte dos animais a cada ano.
Na busca por aprimoramento nos processos, a fazenda contratou consultoria, que sugeriu a adoção dos Remineralizadores de Solo (REM) para enriquecer os solos intemperizados com nutrientes essenciais para a vegetação, principalmente nas áreas de pastagem. De acordo com o consultor Rodrigo Barroso, a fazenda sempre manteve uma política clara de evitar o uso de produtos químicos, priorizando métodos biológicos e o uso de insumos regionais de origem orgânica e inorgânica para promover a fertilidade do solo e ajudar no controle de pragas e doenças. A homeopatia e uso de compostos naturais também fazem parte das tecnologias utilizadas para o tratamento de parasitas e doenças nos animais.
Nesse sentido, as práticas de manejo foram adequadas para se integrarem à lógica do processo, com a mudança nos sistemas de plantio e combinação de várias espécies vegetais, além do uso de REM que, aliado ao controle biológico e compostagem auxiliam na construção de um sistema de pastejo em alta densidade conhecido como ultradenso, ainda pouco conhecido no Brasil, mas implementado com sucesso na Fazenda Santa Nice.
O sistema ultradenso envolve a utilização de altas densidades de animais em áreas pequenas, com movimentações constantes. Rodrigo Barroso explica que o sistema ultradenso foi inspirado na forma como animais herbívoros selvagens pastejavam nas planícies e savanas africanas, se movendo em grandes manadas compactas, comendo rapidamente uma área e logo se movendo para outra. Com essa migração, os animais geram um impacto positivo na fertilidade dos solos, em função da ação dos cascos e dos dejetos. “Com mudanças de piquete ocorrendo de quatro a cinco vezes por dia, os animais se alimentam de forma menos seletiva, resultando em uma colheita mais eficiente da forragem. Além disso, a distribuição uniforme dos dejetos animais pela área estimula a fotossíntese das plantas e promove a saúde do solo, facilitando a ciclagem de nutrientes e o uso eficiente da água, enquanto o solo e a pastagem possuem mais tempo de recuperação entre duas entradas dos animais”, afirma Rodrigo.
Desafios
A inovação trouxe consigo uma série de mudanças e desafios. “Foi necessário realizar uma mudança nos nossos processos, sendo o mais difícil convencer a equipe de que era possível trilhar um caminho alternativo na agropecuária, focada mais em processos e menos em insumos” destaca o gestor da fazenda, Marcelo Grisi. Ele ressalta que o objetivo inicial, ao adotar o uso de REM, era aumentar o aporte de nutrientes e da superfície ativa do solo, proporcionando a formação de zonas de proteção à matéria orgânica, uma solução para tratar o solo naturalmente arenoso e de baixa fertilidade predominante na região da fazenda. “O principal benefício é a melhoria, ao longo do tempo, do nosso principal ativo, que é o solo. Nessa equação temos: Solo Saudável = Planta Saudável = Animais e Pessoas Saudáveis”, reforça o gestor.
A adoção dos REM associadas às demais práticas resultou em uma dieta mais equilibrada e rica para os animais com consequente ganho de saúde, de peso e da condição física do gado, o que reflete, posteriormente, na quantidade e qualidade da carne produzida. A busca por esses resultados está alinhada ao posicionamento da empresa frente às exigências globais por mais sustentabilidade na agropecuária e reflete, também, as preocupações do mercado consumidor. Uma pesquisa realizada pela Embrapa em 2021 revela que temas como a origem da carne e o bem-estar animal, estão ganhando cada vez mais importância, ou seja, refletindo a preocupação crescente dos consumidores em entender todo o processo de criação, alimentação e abate do gado.
Futuro
As mudanças realizadas pela Fazenda trouxeram, além de benefícios, uma certeza, “a adoção de técnicas e produtos mais sustentáveis é um caminho sem volta dentro da Fazenda Santa Nice”, conta Marcelo Grisi. O exemplo da fazenda traz a reflexão sobre a importância da visão de futuro e do planejamento adequado com vistas aos benefícios que a agropecuária regenerativa é capaz de fornecer para os negócios brasileiros. Nesse sentido, o empreendedor aconselha os proprietários rurais: “a adoção de práticas mais ecológicas resultará em um sistema mais sustentável, resiliente e rentável”.