Artigo – A economia circular como instrumento para a geração de negócios sustentáveis

Frederico Torquatro
FFA Legal

RESUMO

Segundo Murray, Skene e Haynes (2017), a economia circular é a tentativa de integrar os princípios da sustentabilidade e de bem-estar ambiental nas atividades econômicas.

Diante de tantos desafios encontrados nas esferas econômicas para implantar práticas sustentáveis e políticas ambientais que contribuam para a geração de valor nos negócios, este artigo busca fomentar a reflexão de como a conexão entre economia circular e sustentabilidade pode produzir resultados vantajosos, tanto no âmbito ambiental quanto no âmbito financeiro, para as empresas.

Palavras-Chave: Economia circular, sustentabilidade, negócios sustentáveis.

ABSTRACT

According to Murray, Skene and Haynes (2017), the circular economy is an attempt to integrate the principles of sustainability and environmental well-being into economic activities.

Faced with so many challenges encountered in the economic spheres in implementing sustainable practices and environmental policies that contribute to the generation of value in business, this article seeks to prove the reflection of how the connection between circular economy and sustainability can produce advantageous results both in the environmental and financial spheres for companies.

Keys words: Circular Economy, Sustainability, sustainable business

A energia, matérias-primas e recursos bióticos encontrados na Terra são responsáveis por aprimorar a vida humana, sobretudo no que diz respeito à construção e desenvolvimento de sociedades. Apesar de serem encontrados de maneira abundante no planeta, tais recursos são finitos e, caso não sejam utilizados de forma consciente, acabarão por esgotar-se (ABRAMOVAY, 2015).

A dinâmica do atual sistema econômico desencadeou uma crise ambiental, já que as pessoas querem consumir cada vez mais e, por sua vez, as grandes corporações precisam extrair, produzir e vender mais (DOWBOR, 2017). Nesse sentido, reforça-se a importância do estudo sobre práticas que reduzam danos ao meio ambiente, tais como a logística reversa e a utilização de energias renováveis.

A busca pelo desenvolvimento sustentável é imprescindível e urgente, visto que o tradicional modelo da economia linear realiza o uso indiscriminado dos recursos naturais, o que vem comprometendo o ecossistema, seja pelo esgotamento de recursos naturais ou pelas mudanças climáticas. Estima-se que mais de 795 milhões de pessoas passam fome no mundo e cerca de 40% da população mundial sofre com a escassez de água (SUGHARA; RODRIGUES, 2018).

Dessa forma, o principal desafio da economia do futuro é conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental, com práticas ecologicamente corretas, economicamente viáveis e socialmente justas (NAVARRO, 2022).

Urge a ruptura do tradicional modelo econômico linear, que tem como base a extração, produção, consumo e descarte dos recursos da natureza, e a transição para um modelo econômico circular, que propõe a transformação para um sistema no qual os recursos possam ser reaproveitados e revalorizados no processo de produção.

No Brasil, já existem algumas iniciativas para a implementação da Economia Circular (EC), como é o caso do HUB Brasil de Economia Circular, um ecossistema multisetorial que promove um novo mindset de negócios, acelerando a EC no país, por meio de mudanças estruturais, educacionais e soluções práticas (NAVARRO, 2022).

Economia Circular: futuro do consumo

A economia circular é um conceito advindo da década de 1970 que tem como objetivo fazer com que todos os tipos de materiais circulem de forma eficiente e que, ainda, possam ser recolocados no processo produtivo, sem afetar sua qualidade (NAVARRO, 2022).

Conforme relata Abramovay (2015), a premissa da Economia Circular é o aproveitamento dos recursos e a consequente redução de desperdícios, considerando tanto o viés ambiental quanto o econômico.

O Relatório da Fundação Ellen McArthur e da McKinsey, citado pelo autor, aponta que pelo menos um terço dos alimentos produzidos na Europa são descartados, além do fato da utilização de recursos hídricos e a absorção de fertilizantes também apresentarem altos índices de desperdício.

Nesse contexto, o modelo circular visa restaurar recursos físicos, de forma a regenerar as funcionalidades dos sistemas naturais, contribuindo assim para um desenvolvimento mais sustentável (CNI, 2018). Dessa forma, será possível utilizar os recursos disponíveis de maneira consciente e efetiva, maximizando o rendimento destes e, consequentemente, reduzindo a necessidade da exploração excessiva de materiais.

A disseminação da cultura e programas de economia circular no Brasil foi instituída pela Lei 12.305/2010 “Política Nacional de Resíduos Sólidos” que trouxe princípios e determinações relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.

Mas, somente em 2022, foi editado o Decreto Presidencial nº 10.936/2022, que regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos e regulamentou programas importantes, como a logística reversa, que visa promover ações destinadas ao reaproveitamento de resíduos sólidos e a inclusão deles novamente nas cadeias produtivas, e também garantir a destinação final adequada.

Estratégia Sustentável e geração de valor

A geração de valor para o cliente é de extrema importância para que as organizações atinjam posições de destaque no mercado. As pessoas estão cada vez mais engajadas com a causa ambiental, mudando hábitos e priorizando o consumo sustentável. Segundo uma pesquisa realizada pelo Sistema Fiep, 87% da população brasileira prefere consumir produtos e/ou serviços de empresas sustentáveis e aproximadamente 70% dos entrevistados afirmam que não se importam em pagar um pouco mais por isso.

Dessa forma, os valores sociais dos consumidores influenciam as empresas a adotarem políticas de sustentabilidade empresarial. Empreendimentos que investem em iniciativas ambientais e na consequente redução do impacto da atividade humana no meio ambiente adquirem valor social e diferencial qualitativo no mercado (GUIMARÃES; VIANA; COSTA, 2015).

Com o apoio do avanço da tecnologia e inovação, viabiliza-se a implantação de negócios mais simples, com custos reduzidos e mais efetivos, atendendo um maior número de pessoas (CURI; MIGUEL, 2017).

A Política ESG (Enviromental, Social and Corporate Governance) vem sendo implantada em larga escala pelas empresas como guia para direções a serem estabelecidas (NAVARRO, 2015) e para identificar se a organização possui sustentabilidade empresarial. O desenvolvimento sustentável pode ser sintetizado em três principais pilares: (1) desenvolvimento econômico; (2) desenvolvimento social; e (3) proteção ambiental.

Henisz, Koller e Nuttal (2021) apontam que as práticas ESG podem gerar valor de cinco formas: crescimento de receita, redução de custos, redução de intervenções regulatórias e legais, aumento da produtividade dos colaboradores e otimização de investimentos.

Por sua vez, a economia circular está intrinsicamente relacionada à perspectiva do desenvolvimento sustentável, uma vez que é vista como uma condição para a sustentabilidade (LAZZARI et al., 2021). A transição do modelo linear para o circular traz vantagens competitivas como a redução de custos, geração de valor e aumento da efetividade nos processos produtivos, em uma nova estratégia de desenvolvimento.

Conclusão

O aumento desenfreado do consumo fez com que o desperdício, a poluição e a exploração dos recursos naturais aumentasse exponencialmente. O modelo linear da economia baseia-se em um processo com começo, meio e fim: produção, consumo e descarte, sem a possibilidade de reaproveitamento das matérias-primas.

A percepção da economia clássica de que as variáveis ambientais são limitantes no crescimento econômico já não é mais tolerável no mundo atual, uma vez que inviabiliza o desenvolvimento sustentável.

A Economia Circular propõe um circuito fechado de fluxos materiais na economia, ou seja, diferentemente dos moldes da economia clássica, o material que seria considerado resíduo passa por um processo de transformação para se tornar recurso e poder ser utilizado em um novo produto.

Cada vez mais as empresas acompanham as tendências de engajamento com a causa ambiental, visto que o desenvolvimento sustentável agrega valor competitivo em um mercado no qual os consumidores tendem a optar por produtos e/ou serviços ecologicamente responsáveis.

Referências:

ABRAMOVAY, Ricardo. A economia circular chega ao Brasil. Valor Econômico, [S. l.], p. 1-2, 17 nov. 2015.
Disponível em: https://valor.globo.com/opiniao/coluna/a-economia-circular-chega-ao-brasil.ghtml. Acesso em: 13 jun. 2022.
AGÊNCIA FIEP. 87% dos consumidores brasileiros preferem comprar de empresas sustentáveis. [S. l.], 28 fev. 2019.
Disponível em: https://agenciafiep.com.br/2019/02/28/consumidores-preferem-empresas-sustentaveis/. Acesso em: 13 jun. 2022.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Economia Circular: Oportunidades e desafios para a indústria brasileira. Brasília: [s. n.], 2018.
Disponível em: https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/2f/45/2f4521b9-d1eb-44f7-b501-cda01254738a/miolo_economia_circular_pt_web.pdf. Acesso em: 13 jun. 2022.
CURI , Denise Pereira; MIGUEL, Lilian Aparecida Pasquini. A importância dos negócios sociais na geração de valor para a sociedade dentro da ótica de liberdades econômicas. Liberdade Econômica, São Paulo, p. 1-13, 6 nov. 2017.
Disponível em:
https://www.mackenzie.br/fileadmin/OLD/62/ARQUIVOS/PUBLIC/SITES/ECONOMICA/2017/A_importancia_dos_negocios_sociais_na_geracao_de_valor_social_30out2017_artigo.pdf. Acesso em: 13 jun. 2022.
DOWBOR, Ladislau. A era do capital improdutivo. São Paulo: [s. n.], 2017.

Disponível em: https://dowbor.org/wp-content/uploads/2012/06/a_era_do_capital_improdutivo_2_impress%C3%A3oV2.pdf. Acesso em: 13 jun. 2022.
GUIMARÃES, C.; VIANA, L. S.; COSTA, P. H. de S. Os desafios da consciência ambiental: o marketing verde em questão. In: C@LEA – Cadernos de Aulas do LEA. n. 4, p. 94-104, Ilhéus – BA, nov. 2015.
HENISZ, Witold; KOLLER, Tim; NUTTAL, Robin. Práticas ESG podem criar valor de cinco formas. [S. l.], 30 jun. 2021.
Disponível em: https://www.mckinsey.com/business-functions/strategy-and-corporate-finance/our-insights/five-ways-that-esg-creates-value/pt-BR. Acesso em: 13 jun. 2022.
LAZZARI, Aline de Geroni Roncato; SOUZA, Ana Clara Aparecida Alves; PETRINI , Maira; AYDOS, Mariana. Sustentabilidade e Economia Circular: o contexto brasileiro em evidência. XXIII Engema, [S. l.], p. 1-16, 1 nov. 2021. Disponível em: http://engemausp.submissao.com.br/23/anais/arquivos/221.pdf?v=1655247887.
MURRAY, A.; SKENE, K.; HAYNES, K. The circular economy: an interdisciplinary exploration of the concept and application in a global context. Journal of Business Ethics, n. 140, v. 3, p. 369-380, 2017.Acesso em: 13 jun. 2022.
NAVARRO, André Castilho. Economia circular e competitividade: uma visão no setor de tapetes higiênicos (PET). 2022. Dissertação (Mestrado em Sustentabilidade) – Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2022.
SUGAHARA, C. R.; RODRIGUES, E. L. Desenvolvimento Sustentável: um discurso em disputa. Desenvolvimento em Questão, [S. l.], v. 17, n. 49, p. 30–43, 2019. DOI: 10.21527/2237-6453.2019.49.30-43. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/view/8244. Acesso em: 14 jun. 2022.
TORQUATO, Frederico Campos. Desenvolvimento Sustentável: uma reflexão sobre os desafios e seus impactos. FFA Legal & Support For Mining Companies, [S. l.], 28 jul. 2021. Disponível em: https://www.ffalegal.com.br/post-1/desenvolvimento-sustent%C3%A1vel-uma-reflex%C3%A3o-sobre-os-desafios-e-seus-impactos. Acesso em: 13 jun. 2022.
87% dos consumidores brasileiros preferem comprar de empresas sustentáveis https://agenciafiep.com.br/2019/02/28/consumidores-preferem-empresas-sustentaveis/